Mensagem de João Paulo II em 2001
(mas sempre atual)
Queridos Voluntários
1. No fim
deste ano, que as Nações Unidas dedicaram ao Voluntariado, desejo exprimir-vos
o meu profundo
e cordial apreço pela dedicação constante com que, em qualquer parte do mundo, ides
ao encontro de todos os indigentes. Quer vos empenheis individualmente quer reunidos em
associações específicas, vós representais para as crianças, os idosos, os
doentes, as pessoas
em dificuldade, os refugiados e os perseguidos um raio de esperança, que
penetra as trevas da
solidão e encoraja a superar a tentação da violência e do egoísmo.
O que leva
um voluntário a dedicar a sua vida ao próximo? Em primeiro lugar, aquele mote inato no
coração, que estimula cada ser humano a ajudar o seu semelhante. Trata-se de uma lei da
existência. O voluntário sente uma alegria, que é muito maior do que a acção
realizada, quando
consegue oferecer algo de si próprio, gratuitamente, aos outros.
Precisamente
por isto, o Voluntariado constitui um factor peculiar de humanização: graças às diversas
formas de solidariedade e de serviço que promove e concretiza, torna a
sociedade mais atenta
à dignidade do homem e às múltiplas expectativas. Através da actividade que desempenha,
o Voluntariado faz a experiência de que, só através da dedicação ao próximo, a
criatura
humana se realiza plenamente a si mesma.
2. Cristo, o
Filho de Deus feito homem, comunica-nos a razão profunda desta experiência humana
universal. Ao manifestar o rosto de Deus que é amor (cf. Jo 4, 8), Ele
revela ao homem o amor como
lei suprema do seu ser. Na vida terrena, Jesus fez com que a ternura divina
fosse visível,
despojando-se "a Si mesmo, tomando a condição de servo, tornando-Se
semelhante aos
homens" (Fl 2, 7) e "por nós Se entregou a Deus como oferenda
e sacrifício de agradável odor" (Ef
5, 2). Partilhando até à morte as nossas vicissitudes terrenas, ensinou-nos
a "caminhar
na caridade".
Seguindo o seu exemplo, a Igreja, nestes dois milénios, não deixou de testemunhar este amor, escrevendo páginas edificantes graças a santos e santas que marcaram a sua história. Entre os mais recentes, penso em São Maximiliano Kolbe, que se sacrificou para salvar um pai de família, e na Madre Teresa de Calcutá, que se consagrou aos mais pobres entre os pobres.
Através do
amor a Deus e aos irmãos, o cristianismo manifesta todo o seu poder libertador
e salvífico. A
caridade representa a forma mais eloquente de evangelização porque, ao responder às
necessidades corporais, revela aos homens o amor de Deus, providente e pai, sempre
solícito por cada um. Não se trata de satisfazer apenas as necessidades
materiais do próximo,
como a fome, a sede, a carência, as curas médicas, mas de fazer com que conheça
de maneira
pessoal a caridade de Deus. Através do Voluntariado, o cristão torna-se
testemunha desta
caridade divina; anuncia-a e torna-a tangível com intervenções corajosas e
proféticas.
3. Não é
suficiente ir ao encontro de quem vive dificuldades materiais; é preciso
responder, ao mesmo tempo,
à sua sede de valores e de respostas profundas. É importante o tipo de ajuda que se
oferece, mas mais importante é o sentimento com que ela é dada. Quer se trate
de microprojectos
ou de grandes realizações, o Voluntariado está chamado a ser em qualquer caso escola
de vida sobretudo para os jovens, contribuindo para os educar para uma cultura
de solidariedade
e de acolhimento, aberto ao dom gratuito de si.
Quantos
voluntários, ao empenhar-se corajosamente pelo próximo, conseguem descobrir a
fé!
Faz experimentar a alegria do amor abnegado, amor que é fonte da verdadeira felicidade.
Faço
sentidos votos para que o Ano Internacional do Voluntariado, durante o
qual se realizaram
numerosas iniciativas e manifestações, ajude a sociedade a valorizar cada vez
mais as numerosas
formas de Voluntariado, que representam um factor de crescimento e de civilização.
Muitas vezes os voluntários substituem e antecipam as intervenções das instituições
públicas, às quais compete reconhecer adequadamente as obras que surgiram,
graças à sua
coragem, e favorecê-las sem sufocar o seu espírito original.
4. Queridos
Irmãos e Irmãs, que constituís este "exército de paz espalhado em todas as
partes da terra,
sois um sinal de esperança para os nossos tempos. Onde quer que surjam
situações desfavorecidas
e de sofrimento, fazei frutificar os insuspeitáveis recursos de dedicação, bondade e
até de heroísmo, que o homem leva no seu coração.
Fazendo-me
voz dos pobres de todo o mundo, desejo dizer-vos obrigado pelo vosso incessante empenho.
Prossegui com coragem o vosso caminho; as dificuldades nunca vos detenham.
Cristo, o Bom Samaritano (cf. Lc 10, 30-37), seja o excelso modelo de referência para cada voluntário. Imitai também Maria que, ao "ir apressadamente" socorrer a sua prima Isabel, se torna mensageira de alegria e de salvação (cf. Lc 1, 39-45). Que ela vos ensine o estilo da caridade humilde e efectiva e vos obtenha do Senhor a graça de O reconhecer nos pobres e nos que sofrem.
Com estes
sentimentos, concedo de coração a todos vós, e a quantos encontrais todos os
dias pelos
caminhos do serviço ao homem, uma especial Bênção apostólica.
Vaticano, 5
de Dezembro de 2001
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